A Associação Brasileira do Veículo Elétrico entende que não há qualquer contradição entre o desenvolvimento do mercado da mobilidade elétrica no Brasil e a indústria de etanol e biocombustíveis.

“Insistir no antagonismo entre tecnologias de mobilidade renovável é, no mínimo, desperdício de recursos”, disse o presidente da ABVE, Ricardo Guggisberg, ao site do jornal “Valor Econômico” de 15 de fevereiro.

A entidade, ao contrário, defende o diálogo entre empresários e técnicos de ambos os setores para ampliar as possibilidades econômicas das duas tecnologias.

A nota da ABVE foi uma resposta à entrevista da presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar, Elisabeth Farina, ao “Valor” de 6 de fevereiro.

Na entrevista, a Unica criticou os estudos do governo federal para reduzir o IPI de veículos elétricos de 25% para até 7%, equiparando as alíquotas às dos carros flex.

O corte do IPI é uma das principais medidas defendidas pela ABVE para desenvolver o mercado dos veículos elétricos e híbridos no Brasil.

A redução ainda não foi confirmado pelo governo, mas faz parte do programa Rota 2030, que deverá substituir o programa automotivo Inovar Auto, que venceu no dia 31 de dezembro.

Segundo a presidente a Unica, os incentivos aos veículos elétricos seriam “contraditórios” com as metas do recente programa RenovaBio, de incentivos à produção de etanol.

ÍNTEGRA

Veja a íntegra da nota da ABVE ao “Valor”.

A propósito da entrevista da presidente da União das Indústrias de Cana-de-Açúcar (Unica), publicada recentemente neste jornal (“Valor” de 6/2/18, p. B10), a Associação Brasileira do Veículo Elétrico julga oportuno fazer os seguintes comentários:

1-Não há a alegada contradição entre etanol e eletricidade na estratégia nacional de mobilidade renovável. Pelo contrário, há um imenso campo de colaboração e confluência tecnológica entre as duas fontes energéticas.

2-A Toyota já deu um exemplo prático dessa confluência ao testar o etanol no seu Prius elétrico híbrido, em conjunto com técnicos da USP e da Universidade de Brasília. Este é o caminho: uma empresa privada somando esforços com universidades públicas para produzir veículos acessíveis e 100% limpos.

3-Outro exemplo: uma atenção da indústria de biocombustíveis ao desenvolvimento do etanol de segunda geração daria expressiva vantagem competitiva aos veículos elétricos híbridos produzidos no Brasil, especialmente ônibus, nas exportações para a América Latina e outros mercados. Eis um caso concreto em que a colaboração tecnológica faria sentido econômico e atenderia ao interesse nacional.

4-A liderança brasileira em biocombustíveis merece todos os aplausos. Mas a vocação nacional à mobilidade elétrica também é uma realidade. Segundo o Ministério das Minas e Energia (“Valor”, 6/2/18), as fontes renováveis já contribuem com 81% da matriz elétrica total, graças – além das hidrelétricas – aos parques solares e eólicos.

5-A ABVE defende a redução do IPI dos veículos elétricos de 25% para 7% porque ela é importante para o crescimento desse mercado no Brasil. É uma medida justa, que se limita a equiparar as alíquotas dos elétricos às dos carros flex. Supor que tal redução ameace o setor sucroalcooleiro parece exagero.

6-A ABVE entende que insistir no antagonismo entre tecnologias de mobilidade renovável é, no mínimo, desperdício de recursos. Por isso apoia francamente o diálogo entre ambos os setores. Que outro país do mundo poderia somar tantas competências para liderar a agenda mais importante do século 21, que é a transição rumo à economia de baixo carbono?

Ricardo Guggisberg
Presidente da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE).